A Mestra das Primeiras Letras
Em certa ocasião, em tempos bem pretéritos, ainda em tenra idade – 5anos, aproximadamente -, um garotinho fez a seguinte declaração de amor a sua estimada e inesquecível docente: “Tia, quando eu sê gande vô compar um caixão bem bonito pra você”. Pois bem, o pequeno garoto julgava, com tal investida, estar expressando toda a sua admiração e respeito por sua “mestra das primeiras letras”
Referida alusão ilustra, com fidelidade, o quanto o docente se reverte em mito na vida de uma criança. Releva-se, ainda, afirmarmos que, transcendendo qualquer idade, o professor imprime forte e inquestionável influência na formação de um indivíduo, seja ele do ensino fundamental ou até mesmo um doutorando. Ocorre que, na grande maioria das vezes, o mesmo não incorpora essa responsabilidade. Sua rotina restringe-se a entrar nas salas de aula e delas sair com o trivial objetivo de auferir um salário mensal, como se estivesse, apenas, desencumbindo-se de uma obrigação qualquer, sempre despido de amor ao seu mister.
O professor se deve investir de um instrumento facilitador do aprendizado, um formador e, quiçá, um reformador; deve, portanto, além de transmitir o saber ao seu alunado, contribuir para preservação das inúmeras identidades que estão em fase de estruturação, respeitando, como imperativo do fiel cumprimento do dever, a individualidade de cada pupilo.
Lamentavelmente, não é o que presenciamos durante nossa infatigável peregrinação pelas salas de aula, ao longo da trajetória curricular. Ao contrário, muitos, longe de serem mestres, tornam-se verdadeiros carrascos, auto-elegem-se donos da verdade, travestindo-se no direito de dizimar a auto-estima dos mais vulneráveis que, em suas peculiares inocência e ingenuidade, vêem neles seus super-heróis.
Para alento nosso, ainda há os que cumprem integralmente, com esmerada dedicação e irretocado denodo, o papel de que se incumbiu, recebendo a compensação de sua imagem ficar retumbando em nossa memória por todo o transcorrer da vida.
É esta a representação mental que devemos fazer nossos filhos assimilarem em relação ao professor: a de um mágico-amigo que transforma conhecimento em amor. E, quanto a nós, pais e educadores, devemos mostrar-lhes que o alicerce sobre o qual será edificada sua profissão, terá, como a matéria-prima básica e imprescindível, o professor. Essa postura, com bastante otimismo, refletir-se-á na consciência nas autoridades governamentais.
Voltando ao garotinho acima mencionado, ele, após o decorrer de vários anos, já doutor, deparou-se com sua antiga mestra. E, depois de afetuosos abraços ao sabor de orgulhos recíprocos, a mesma arrancou-lhe deliciosas gargalhadas, ao evocar aquele momento sublime e pueril. Ele, por sua vez, seguiu adiante, próspero e feliz, contando o aludido episódio a cada um de seus três filhos... e a autora, também, sua esposa, de tudo foi testemunha desse amorável encontro.
Simone Moura e Mendes
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