Amor e café
É domingo.
– O café já está pronto! – Alguém grita ao fundo do cômodo.
Estou na cama. Lá fora á chuva cai devagar e serena. O som das gotas, ao cair no chão seco, é música que acalma. Não estou tão longe das janelas, á alguns centímetros, os respingos caem no meu rosto.
Frio na barriga me acomete; um frio que não sei explicar. Não me reclamo, é uma sensação agradável. Um cheiro gostoso passa por mim: é o café recém-feito, á pouco anunciado, aquele ao qual minha amada fizera com tanto amor e tantas vezes.
A sala é pequena. Cinco metros por sete, na verdade um cubículo! O primeiro cômodo da nossa casa. Foi o que o dinheiro pode nos dá – ou, o resto dele.
Coube toda ás nossas tralhas e cacarecos; ás minhas, ás da esposa e do pequeno.
Ali está: Um berço no canto esquerdo; é o melhor móvel da casa. Um guarda-roupa três vezes montado e desmontado; coitado, mau se põe em pé, na verdade mais pendia pra direita do que se mantinha reto. Uma cômoda cor marfim com quatro gavetas, desfalcada de uma delas. Uma cama cinza escuro comprada há poucos dias. Algumas caixas de papelão com vários sapatos, e chinelos, e mais um amontoado de calcinhas e coecas ficaram ao lado da cama. Sobre á cômoda dois livros, e sobre os livros dois perfumes: um doce e um amadeirado.
À cama está desarrumada. Falta-me coragem. Uma chuva mansa como está e um dia todo livre de obrigações me convidam a fica plantado nesta cama. Passo mais alguns minutos. Durmo mais um sono. Respingam sobre mim mais alguns chuviscos. Esqueço-me da vida.
– Amor! O café! – Grita ela. Acordo de repente com o chamado.
Salto num pé só. Espreguiço-me como um gato de hotel. Brinco com o pequeno. E, voluntariamente, esqueço mais uma vez dos meus problemas. Afinal; é domingo, chove manso e tenho o amor que preciso e meu café.
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