CAPÍTULO 3: Escolhas
Acompanhei Valentina até seu carro, conversamos um pouco mais enquanto isso, ela me passou seu número e explicou onde morava. Combinei que passaria depois das seis horas em sua casa. Esperamos mais um pouco até que sua amiga que iria de carona chegasse. Nesse meio tempo, por coincidência encontrei meus amigos. Ao longe puder ver Simon, Helena e Cara caminhando em direção ao estacionamento. Acenei em direção a eles para que pudessem nos ver. Fiquei um pouco receoso de apresenta-los à Valentina. Não me levem a mal, adoro meus amigos, mas eles são tão idiotas quanto eu sou e poderiam constranger Valentina com milhares de perguntas sem noção. De qualquer forma, resolvi apresenta-los.
Demoraram cercar de dois minutos para chegar até nós, cumprimentei todos e me virei para Valentina:
-Pessoal, essa é a minha nova amiga Valentina. Agradeceria se vocês pudessem ser legais com ela e falar bem ao meu respeito. Não necessariamente nessa ordem.
Todos riram. Ela era tão legal que não havia como eles não serem também. Resolvi apresenta-los um a um:
-Estes são meus amigos, gangue, ou quadrilha. Qualquer uma das definições é correta. Estes são Simon, Helena e Cara.
Um a um eles a cumprimentaram. E aí começaram a conversar como se já se conhecessem antes. Esse era um lado que eu gostava nos meus amigos, eram bastante chatos com a maioria, mas quando eram legais, eram legais de verdade, daquele tipo que te deixa à vontade à primeira vista. Simon era meu melhor amigo desde o jardim de infância, era quase como meu irmão. Era aficionado por jogos e por esportes, principalmente futebol americano. Era um cara muito inteligente e comunicativo, cursava direito e planejava ser um grande advogado. Cara era ex-namorada de Simon, o que deveria ser estranho para todos, mas ela era tão engraçada e divertida que mesmo após o término do namoro, não conseguimos escolher um lado, então forçamos os dois a serem amigos. Apesar de que eu ache que ambos ainda se gostam, mas nunca admitiriam. E por último a minha melhor amiga, Helena. Helena era uma garota fora de série. Se eu pudesse escolher alguém para me apaixonar, essa pessoa seria Helena. Ela era linda, inteligente e era amiga de todos, era aquele tipo de pessoa que quando chegava em um ambiente, o tornava mais leve. Ela era uns 30 centímetros mais baixa que eu, tinha os cabelos castanhos e os olhos quase verdes, tinha o rosto delicado. Cara também era muito bonita, mas o que deixava Helena mais linda era seu jeito, ela era capaz de deixar qualquer um confortável diante da pior situação. Passamos uns cinco minutos debatendo a diferença dos três filmes de `De volta para o futuro`, debate esse que havia sido levantado por Cara, no momento que Valentina havia dito que estudava cinema. Após isso a carona dela chegou e elas foram embora, me despedi dela e já sentia vontade de estar em sua casa. Assim que o carro sumiu na saída do estacionamento, os três me olharam.
- O que foi? — Eu disse
Eu estava prestes a sofrer o maior bombardeio da história de perguntas sem noção. Valentina havia escapado, eu não.
-Então quer dizer que Violet já era? — Disse Simon
-Nossa ainda bem, ninguém mais te aguentava de mau humor por causa do pé na bunda que cê levou Theo. — A honestidade de Cara era sempre um consolo.
Helena era a mais contida, ela era a garota que não falava sempre a verdade nua e crua, mas se algum dia viesse a falar, pode apostar que a situação era muito grave. Por isso respeitava muito sua opinião. Ela foi a mais contida dos três:
-Bom, acho que eu, assim como os outros dois aqui, estão muito curiosos com essa garota. Então faz o favor e conta tudo dela.
Contei aos três tudo, desde o encontro desastrado no corredor até a conversa na cafeteria sobre flechas, nomes e pingentes. Eles suspeitavam de mim. Considerei justa essa desconfiança. Desde que terminei meu namoro com Violet, eu havia me tornado mais babaca que de costume, eu tinha aberto mão da minha vida. O encontro com Valentina mudou meu humor de forma tão repentina, que até eu tinha de reconhecer. Helena me encarava. Simon e Cara tentavam processar a história de forma um pouco mais lerda.
-Então, onde fica Violet nessa história toda? — Disse Helena
Eu não sabia responder aquilo, eu não tinha superado totalmente Violet ainda. Desde que acabamos ainda não havíamos nos encontrado, então eu não tinha ideia de qual seria a minha reação ao encontra-la. Eu gostava muito de Violet. Mesmo. O que aconteceu foi que as coisas com Valentia fluíram de forma tão rápida que eu não tive tempo para lembrar dela. Talvez fosse um sinal que as coisas estavam melhorando pra mim. Resolvi falar isso pra eles:
-Caras, eu não sei, tudo que passei com a Violet, foi coisa demais, foi tempo demais, eu gosto dela ainda, mas… Eu não posso ficar sentado esperando as coisas caírem do céu pra mim. Eu não sou assim, e vocês sabem disso. Eu preciso seguir em frente, e por que não com Valentina?
-Não é isso Theo, não nos importamos que você siga em frente, o que nos preocupa é o fato de você ter ficado semanas sem mesmo mencionar o nome de Violet e agora você aparece repentinamente com a ruiva. É um pouco confuso. E nós sabemos como você fica quando está confuso. — Cara falou
Cara era uma pessoa muito transparente, às vezes até demais. Falava a verdade nua e crua por mais que doesse. Em algumas ocasiões admirava isso nela, era o murro na cara que eu precisava. A realidade batendo à porta. Era bem verdade tudo isso que eles diziam. Eu podia acabar tanto com o resto que sobrou de mim, como poderia acabar com Valentina. Precisava balancear isso. Simon ficou calado durante toda a conversa. Então, resolvi pergunta-lo:
- E você Simon, qual sua opinião?
Ele respirou fundo e me olhou. Simon era meu irmão de uma mãe diferente. Dava-me os puxões de orelha quando eu extrapolava o limite da idiotice. Era ele quem eu recorria quando as coisas estavam ruins. E soltou:
-Tu é meu parceiro desde quando? Uns três anos de idade? Você sabe que fico feliz por você seguir em frente, de verdade. Mas você precisa entender Theo, você não pode ir com tanta sede ao pote. Você acabou com Violet há mais ou menos um mês. E agora já quer se apaixonar por outra? Eu e você sabemos que não é assim que funciona. Não tô te dizendo para não sair com a ruiva. Mas vai com calma meu parceiro. Eu te conheço muito bem, e você também.
Ficamos nessa por mais uns cinco minutos antes de se despedir e cada um pegar seu carro e ir para casa. Entrei no meu carro e fiquei pensando em tudo que eles falaram. Dirigi com aquilo na minha cabeça. Será que eu iria estragar tudo com Valentina? Antes mesmo de começar? Ela era a melhor coisa que havia me acontecido nos últimos dias. Não poderia me dar ao luxo de estragar qualquer chance que pudesse haver entre nós dois. Cheguei em casa e subi o elevador. Ainda eram três da tarde, o que me deixava com a casa sozinha para mim. Fui direto pro meu quarto. Meu quarto era meu refúgio. Era um quarto grande, cercado por estantes, cheia de livros. Me fazia bem ficar cercado por toda aquela quantidade de papel e histórias. Era ali que eu ia quando as coisas não estavam bem, eu lia, para fugir da realidade. Não há nada melhor como uma realidade que não é nossa para esquecer-se das dores do mundo real. Sentei no chão e encarei o mural que havia na parede. Fotos polaroid com Violet. Espalhadas em meio à bagunça de avisos e ideias que eu costumava prender no quadro. Não havia mexido em nada dali desde que terminamos. Não tive coragem. Até agora. Levantei-me e comecei a tirar uma por uma as fotos. Peguei um saco e joguei tudo dentro. Comecei a sentir uma sensação boa, como se uma ancora que me puxava pra baixo, enfim, começasse a se desprender de mim. Mas esqueci de uma. A foto que mais gostava continuava lá. Presa e em destaque. Ela toda agasalhada no frio de Nova Iorque, mordendo meu rosto enquanto eu sorria junto a ela. Como eu gostava daquela foto. Tirei-a com cuidado do quadro e me sentei no chão. A foto em meus dedos. Encarava e parecia que tudo havia voltado ao seu lugar. Mas não era assim. Não poderia. Não mais. Eu estava tão concentrado na foto que demorei uns segundos para perceber meu celular vibrando ao meu lado. Peguei o celular e o visor piscava freneticamente com a foto. Valentina Neves, indicava. Coloquei-a do lado da foto. Tentei pesar o que cada uma poderia representar pra mim. E resolvi escolher aquilo que havia me trazido de volta à vida. Era hora de escolher as coisas boas que a vida poderia me oferecer. Chega de perder tempo sentindo pena de si mesmo. E sem pensar muito, apertei o botão verde e disse:
-A que devo a honra da sua ligação Srta. Neves?
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