ADEUS, ROSÂNGELA
Parei de escrever
Perdi a vontade pra isso
Chega de mentir
Não nasci pra poeta
Tenho preguiça de rimar
Chutei o balde
Não tô nem aí pra nada
Odeio concordância nominal, verbal, o escambal
Ops, rimei
Mas foi sem querer
Estou livre das amarras
Não me apego mais em formas
Que se danem os críticos, os puristas, todos
Voltei a ser o que era
Um simples mortal
Aliás, voltei a ser o que nunca deixei de ser mas pensei que já não mais era
Entenderam? Nem eu!
Mas é isso mesmo que eu quero
Quero não ser entendido
Ou melhor, quero ser odiado, tachado, falado
Só não ignorado, senão eu não estaria de novo escrevendo
Mas agora é diferente
Escrevo esperando pedras
Cansei das flores, dos amores, das senhoras e dos senhores
Vejam que rimei de novo, mas foi rima pobre
Me faz bem
Nada de luxo ou de pompa ou de frescuras
Só escreverei, agora, para mim
E, dependendo do dia, sairão coisas boas ou ruins
Hoje, não estou num dia bom, perceberam?
Pois é, estou puto da vida
Com uma bala perdida
Que matou mais uma criança inocente
Será que essa gente má não sente
Tanto bandido ou tenente
Que da arma para a frente
Há um grande contingente
De muita gente boa
De crianças e coroas
Que só querem bem viver
E nem na hora do lazer
Estão livre dessa dor
Hoje, sentada ao computador
Morreu uma linda menina
Vítima da sanha assassina
De seus cruéis carrascos
Que saco
Vinha rimando e nem percebi
Mas foi rima de raiva, de ódio, de indignação
Desculpem, depois de tanto tempo voltar tão amargo
Mas é a vida que me deixa assim
Ou a falta de respeito a ela (à vida)
Minha solidariedade com a família de Rosângela
A adolescente de 14 anos, do Rio de Janeiro
Que morreu hoje, vítima da terrível violência
Certamente no momento em que falava de sonhos e flores
Adeus, Rô, durma em paz
Coisa que aqui você não teve
E ninguém tem. Até quando?
(Sander Dantas Cavalcante)
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