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O movimento social autêntico...

Era noite de sexta-feira, numa das mais movimentadas avenidas da cidade de Maceió, a “Fernandes Lima”; o congestionamento, frequente nesse logradouro, estava mais intenso. As buzinas dos carros soavam descompassadas como forma de chamar atenção. Aquela mobilização cristalizava o movimento social autêntico: revoltados com o preço do combustível, vários cidadãos se organizaram para abastecer em postos estratégicos; a ideia era abastecer apenas cinquenta centavos, mas exigir a nota fiscal – o prejuízo dos empresários era certo.
 
O protesto do movimento denominado “Na mesma moeda” usou vários instrumentos de informação: a presença da imprensa, adesivos, divulgação nos sites de relacionamento, transmissão ao vivo de uma câmera de celular pelo “twitter”. Havia também nos postos, fiscais do PROCON para garantir o direito dos consumidores de abastecerem aquele valor ínfimo.
 
Era o povo (classes média e alta, observe-se!) quem estava ali; por esse motivo o movimento foi um sucesso. De lá pra cá, o preço da gasolina caiu consideravelmente, embora ainda esteja aquém do que se espera. Em todo sentido, a iniciativa foi válida – testificou que o povo sabe sim se organizar, e que o poder popular é soberano, afinal, o que é a democracia senão o “governo do povo”?
 
Nesse momento pensei nos nossos outros prejuízos: quanta coisa está errada na administração do estado de Alagoas. Temos um governo que criou no imaginário de muita gente a ideia de que vivemos no “estado das maravilhas”. Juntou a falta de instrução política do nosso povo ao poder econômico tradicional da família “Vilela”, e dessa forma, Teotônio foi reeleito governador dessas terras caetés. O tempo todo apresenta números, números e mais números, como se os números fossem suficientes para nos convencer de que nossa educação foi milagrosamente melhorada, de que nossa saúde pública mais parece um serviço oferecido pela iniciativa privada, ou de que nosso povo pode andar com segurança.
 
A verdade não é essa, e eu não preciso de números para contradizer o que o governador propagandeia. São vários os nossos problemas: as escolas, em sua maioria, ainda não têm a estrutura física mínima necessária; as salas de aula ou estão superlotadas ou estão esvaziadas pela força da criminalidade; o serviço de saúde se consolidou como um caso de calamidade pública – filas enormes, macas pelos corredores, pacientes jogados no chão, a demanda de pacientes é extremamente superior à quantidade de profissionais da área; no que se refere à segurança pública seria inviável apontar nossos problemas, tamanha a proporção da situação.
 
Um passo fundamental, embora não único, para minimizar o efeito desse caos que verdadeiramente se instalou em Alagoas, seria a valorização do servidor público – aliados na promoção da justiça social. Mas a resposta do governador às reivindicações do funcionalismo foi uma sonora gargalhada que ecoou nos microfones de toda a imprensa alagoana. A questão é tratada de forma tirânica pelo executivo, e por que não dizer pelo judiciário, que tem se mostrado subserviente aos interesses do senhor Teotônio Vilela. Antes mesmo dos sindicatos deflagrarem greves, elas já estavam decretadas ilegais – uma contundente ameaça àqueles que têm o direito de cobrar melhores salários e melhores condições de trabalho.
 
Defender o governador no estágio em que nosso estado se encontra é “fazer das tripas, coração”. Justificar que os aumentos ferem a Lei de Responsabilidade Fiscal se tornou inviável, afinal, os próprios deputados estaduais, quase todos aliados do governador, aumentaram os seus próprios salários em mais de 100%, sem preocupar-se com a observância da tal lei. Impossível não citar, nesse contexto, a perseguição que vêm sofrendo os servidores militares que ousem aderir aos protestos; pior que isso são as ameaças do secretário de defesa social, via twitter, citando o retrógrado regimento militar para intimidar os servidores.
 
E o que a sociedade tem feito em meio a tudo isso? Pouco ou nada. Alguns se limitam a proferir críticas ao governador na web; outros são indiferentes; outros ainda se metem a chamar os servidores de vândalos, omitindo o fato de que foi o governador Teotônio Vilela quem invadiu nossos direitos, depredou nossa dignidade, destruiu nossos sonhos, pichou nossa esperança...
 
Retomando a analogia, fico a sonhar o quanto seria bom que a sociedade tomasse coragem, saísse de casa, e fosse às ruas juntar-se aos servidores públicos cobrar qualidade na prestação dos serviços que nos são oferecidos, tal qual o movimento “Na mesma moeda”. Só com a pressão popular teríamos um movimento social autêntico, apartidário, com protestos eficazes e pacíficos.
 
Ou as pessoas comuns aderem a essa “batalha”, ou o desfecho dessa crise será o de sempre: servidores submetidos à vontade do governo, serviços públicos oferecidos de forma escassa, governador gargalhando de nós, eleitores otários, povo inerte. Que essa realidade mude e que a educação tenha o poder de instruir às próximas gerações para mudar tudo isso.
 
Enquanto isso, que a música de Chico Buarque seja nosso alento: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria. Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença, e EU VOU MORRER DE RIR, e esse dia há de vir antes do que você pensa (...)”
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

Membro desde Junho de 2011

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