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Suor

140 quilos.

                Aquela mulher – primeiro me pareceu estranha. E não estou sendo modesto quando digo ‘estranha’. No auge dos meus doze anos era a primeira vez que vira alguém tão gorda e de tão perto.

Ela vem do circo!Foi meu primeiro pensamento. E estava encantado e anestesiado. Era beleza demais para meus olhos. Aqueles braços gordos. A barriga parecia carregar uma pessoa dentro. Eu sentia cada passo que ela dava. O chão parecia tremer! Era assustador e, ainda assim, sentia-me tão encantado. Nunca tinha sentido meu corpo tremer tanto. Minhas pernas ficaram bambas! Nem tive medo de cair!Foi o melhor momento da minha vida. Aquele dia ficou tão gravado na minha memória que consigo recordar até a roupa que ela usava, a minha, a roupa que o motorista do carro que buzinou na minha frente estava vestido. Eu estava parado. E do meu lado direito, bem acima de minha cabeça, o semáforo verde indicava que os carros poderiam circular livremente. Eu não ouvia absolutamente nada! Era minha primeira vez na cidade grande. Estava com meu irmão mais velho: ele deveria ter uns 25 anos. Ele voltou, segurou meu braço e me puxou, mas meu olhar ainda pairava sob aquela linda figura gorda que havia passado por mim. Um vestido florido, sandália baixa e o suor cobrindo todo seu corpo.

Meu irmão dizia qualquer coisa com as mãos e eu fingia que ouvia. Sempre balançando a cabeça de um lado para o outro. Sem entender absolutamente nada. A única coisa que eu ainda queria era aquela mulher. Aquela lenda feminina que havia passado por mim. Eu nem sei, mas acho que ela arriscou um pequeno olhar para mim e deva ter balbuciado alguma coisa. Eu não podia ter respondido. Ela jamais me entenderia.

E foi assim que cheguei ao êxtase pela primeira vez. Sabia que esta palavra existia, no entanto nunca tinha compreendido seu real significado. ÊXTASE. Era assim que as coisas se definiam naquele momento. Nunca mais sentiria aquilo de novo. E eu sabia que seria muito bom. Talvez nunca descobrisse seu nome. Talvez nunca soubesse de minha vida. E daí? Eu tinha a gorda do semáforo na minha mente. E isto sim era importante! Ainda consegui vê-la entrar num ônibus, talvez morasse nos céus e apenas descera para me vigiar.

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Igor Rozza ESCRITO POR Igor Rozza Escritor
Taquarana - AL

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